segunda-feira, 27 de junho de 2011

Querido Diário - Chico Buarque

Hoje topei com alguns


conhecidos meus

Me dão bom-dia [bom-dia], cheios de carinho;

dizem para eu ter muita luz

e ficar com Deus

Eles têm pena de eu viver sozinho

Hoje a cidade acordou

toda em contramão

Homens com raiva,

buzinas, sirenes, estardalhaço

De volta à casa, na rua

recolhi um cão

que, de hora em hora, me arranca um pedaço

Hoje pensei em ter religião

De alguma ovelha, talvez,

fazer sacrifício

Por uma estátua ter adoração

Amar uma mulher sem orifício

Hoje, afinal, conheci o amor

E era o amor, uma obscura trama

não bato nela, não bato

nem com uma flor

mas se ela chora, desejo-me em flama

“Querido diário”

Hoje o inimigo veio,

veio me espreitar

Armou tocaia lá

na curva do rio

Trouxe um porrete, um porrete a “mode” me quebrar

mas eu não quebro não, porque sou macio.


Ouvir aqui:
http://letras.terra.com.br/chico-buarque/1911622

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